A influência do Ortodontista no tempo de Tratamento Ortodôntico

     De todas as perguntas recorrentes em um consultório de Ortodontia, talvez a mais ouvida seja referente a quando o aparelho será removido. Por mais que um prazo tenha sido fornecido ao paciente, alguns parecem “nos testar” mensalmente.

     Mas a preocupação com o tempo de tratamento nunca pertenceu somente aos pacientes. A Ortodontia tem buscado, incessantemente, formas de diminuir o tempo total de tratamento. Edward Angle, o pai da especialidade, afirmou que um tratamento ortodôntico, quando bem executado, leva em média, 2 anos para ser realizado. A Ortodontia moderna, com toda a tecnologia à disposição dos dias atuais fez com que nossos tratamentos se tornassem mais tranquilos de serem realizados (para Ortodontistas e pacientes), mas será que o tempo de tratamento diminuiu tanto assim com relação à afirmação de Angle?

     Sabemos que há um limite biológico. Os fenômenos que regem a movimentação dentária induzida são soberanos. No entanto, outros fatores influenciam o tempo de tratamento, como idade do paciente, severidade da má oclusão, padrão facial e muscular, condições periodontais, presença de hábitos e claro, cooperação.

      A colaboração do paciente é fundamental para um bom andamento do tratamento. Aqueles menos colaboradores, especialmente na fase de utilização de elásticos, tem seu tratamento prolongado. Cabe ao Ortodontista, portanto, conscientizar o paciente sobre a importância da colaboração para que bons resultados sejam alcançados em um menor tempo possível e deixá-lo ciente do tempo adicional para o término do tratamento quando demonstrar atitude não colaborativa.

     Propostas para aceleração da movimentação dental

     A fim de superar barreiras em direção a um tratamento ortodôntico mais rápido, técnicas e aparelhos diversos foram propostos com o intuito de acelerar a movimentação ortodôntica. Procedimentos de corticomia (FIGURA 1), micro-osteoperfurações (MOP’s), laserterapia de baixa intensidade (LLLT) por exemplo, foram apresentados à comunidade ortodôntica como propostas de se acelerar a movimentação dentária e consequentemente abreviar o tempo de tratamento ortodôntico. Alguns deles promovem efetivamente uma aceleração da movimentação dentária, porém com limitações. A necessidade de realização recorrente de procedimentos cirúrgicos (corticotomia) e de investimentos em aparelhagem (LLLT) muitas vezes torna inviável a execução de forma rotineira para a maioria dos ortodontistas. 

FIGURA 1 – Corticotomia.

Fonte: Rodrigues et al. (2020)

     Uma lembrança que deveria ser constante: A terceira lei de Newton

     As variáveis com influência sobre o tempo de tratamento são normalmente consideradas e recebem a atenção do Ortodontista na elaboração do plano de tratamento. O que muitas vezes é desconsiderado, é que o tempo de tratamento também depende frontalmente da atuação do Ortodontista.

     Durante o planejamento da mecânica ortodôntica, há uma tendência – especialmente aos menos experientes – da visualização apenas dos movimentos dos dentes da unidade de ação. Talvez o maior diferencial daqueles com maior vivência na especialidade com relação aos iniciantes, seja a capacidade de enxergar e antever os efeitos da mecânica na unidade de reação (FIGURA 2) e levá-los em consideração no planejamento.  Essa conduta é fundamental para a obtenção de bons resultados – e também responsável direta pela diminuição tempo de tratamento.

FIGURA 2 – Unidades de Ação (Setas azuis) e Unidade de Reação (setas vermelhas).

 

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Fonte: Do autor.

     Efeitos colaterais de mecânica – o “ladrão” de tempo do Tratamento Ortodôntico

     Quando não nos atentamos para os efeitos colaterais da mecânica (ou efeitos sobre a unidade de reação), quase sempre teremos problemas. Algumas vezes, os efeitos colaterais até são desejados e nos favorecem, mas na maior parte dos casos eles serão desfavoráveis. E a correção desses efeitos toma tempo precioso no tratamento, que poderia ser empregado na remoção em tempo menor que o acordado com o paciente (excelente para o seu marketing pessoal) ou para refinar a finalização com mais tranquilidade, atingindo resultados de excelência.

     Um verdadeiro fantasma, que por décadas assombrou Ortodontistas, foi a questão da ancoragem. Havia sobre a ancoragem, uma máxima entre os Ortodontistas, repetida em tom irônico e resignado: “Perde-se quando não se pode, não se perde quando se quer”. O tormento de controlar a unidade de reação, especialmente em movimentos de translação (retrações, distalizações, mesializações) foi resolvido com o advento da ancoragem esquelética. Miniplacas e, principalmente, mini-implantes (FIGURA 3), simplificaram bastante este controle, praticamente anulando efeitos colaterais e otimizando os resultados do tratamento.

FIGURA 3- Ancoragem absoluta como mini-implante.

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Fonte: do autor.

     Para além da ancoragem esquelética, outras condutas, quando adotadas, podem evitar ou minimizar efeitos indesejados que nos fazem perder tempo precioso na conclusão dos tratamentos.  Sobre essas condutas, relacionadas a diferentes tipos de correção, discorreremos na segunda parte do nosso texto. Até breve!

Esse post foi criado pelo Professor:

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Augusto Iunes

Professor do Instituto Marcelo Pedreira